“Todas essas perguntas tornaram a surgir em minha mente esta tarde, quando descobri um banco tranqüilo em um dos jardins do ashram e decidi ficar sentada meditando durante uma hora (…). Infelizmente eu havia me esquecido do que “pinta” na Índia ao entardecer: mosquitos. Assim que me sentei naquele banco em meio ao crepúsculo, pude ouvir os mosquitos voando em minha direção, roçando em meu rosto e aterrisando – em um ataque coletivo – na minha cabeça, tornozelo, braços. E, em seguida, senti suas picadas pequenas e vorazes. Não gostei daquilo. Pensei: “Esta é uma hora ruim do dia para praticar meditação Vipassana”.
Por outro lado – quando seria uma boa hora do dia, ou da vida, para ficar sentada em alheia imobilidade? Quando é que não existe nada zumbindo em volta, tentando distrair você e provocar alguma reação? Então tomei uma decisão. (…) Propus uma experiência a mim mesma – e se eu agüentasse isto, para variar? Em vez de tapas e beliscões, e se eu agüentasse o desconforto sentada durante apenas uma hora de minha longa vida?
Então foi o que fiz. (…) Era uma tentativa amadora de auto-controle. Se eu conseguisse agüentar sentada aquele desconforto não-letal, então que outros desconfortos poderia um dia vir a agüentar sentada? E quanto aos desconfortos emocionais, que considero ainda mais difíceis de suportar? E o que dizer de ciúme, raiva, medo, decepção, solidão, vergonha, tédio? (…)
Mas houve algo de levemente emocionante para mim ao perceber que, durante meus 34 anos na Terra, nunca deixei de dar um tapa em um mosquito que estivesse me picando. Fiz isso automaticamente, assim como reagi a milhões de outros sinais ao longo da vida, grandes ou pequenos, de dor u de prazer. Sempre que alguma coisa acontece, eu reajo. Mas ali estava eu – ignorando o reflexo. Eu estava fazendo uma coisa que nunca tinha feito antes. Uma coisa pequena, tudo bem, mas quando foi que eu pude dizer isso? E o que serei capaz de fazer amanhã que ainda não sou capaz de fazer hoje?
Quando tudo terminou, levantei-me, andei até meu quarto e avaliei o estrago. Contei cerca de vinte picadas de mosquitos. Meia hora depois, porém, todas as picadas haviam diminuído de tamanho. Tudo passa. Depois de algum tempo, tudo acaba passando.”
Por outro lado – quando seria uma boa hora do dia, ou da vida, para ficar sentada em alheia imobilidade? Quando é que não existe nada zumbindo em volta, tentando distrair você e provocar alguma reação? Então tomei uma decisão. (…) Propus uma experiência a mim mesma – e se eu agüentasse isto, para variar? Em vez de tapas e beliscões, e se eu agüentasse o desconforto sentada durante apenas uma hora de minha longa vida?
Então foi o que fiz. (…) Era uma tentativa amadora de auto-controle. Se eu conseguisse agüentar sentada aquele desconforto não-letal, então que outros desconfortos poderia um dia vir a agüentar sentada? E quanto aos desconfortos emocionais, que considero ainda mais difíceis de suportar? E o que dizer de ciúme, raiva, medo, decepção, solidão, vergonha, tédio? (…)
Mas houve algo de levemente emocionante para mim ao perceber que, durante meus 34 anos na Terra, nunca deixei de dar um tapa em um mosquito que estivesse me picando. Fiz isso automaticamente, assim como reagi a milhões de outros sinais ao longo da vida, grandes ou pequenos, de dor u de prazer. Sempre que alguma coisa acontece, eu reajo. Mas ali estava eu – ignorando o reflexo. Eu estava fazendo uma coisa que nunca tinha feito antes. Uma coisa pequena, tudo bem, mas quando foi que eu pude dizer isso? E o que serei capaz de fazer amanhã que ainda não sou capaz de fazer hoje?
Quando tudo terminou, levantei-me, andei até meu quarto e avaliei o estrago. Contei cerca de vinte picadas de mosquitos. Meia hora depois, porém, todas as picadas haviam diminuído de tamanho. Tudo passa. Depois de algum tempo, tudo acaba passando.”
Trecho do Livro Comer, Rezar, Amar da escritora Elizabeth Gilbert.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo seu recado. Volte Sempre!